segunda-feira, 7 de setembro de 2015

GLÚTEN: ALIADO OU VILÃO PARA O PRATICANTE DE MUSCULAÇÃO?

Por Marcelo Sendon.

O glúten é algo que devemos nos preocupar em ingerir ou é apenas um mito, que a sua ingestão pode ocasionar problemas de saúde? E para nós, praticantes de musculação, ele afeta nossos objetivos?

"Contém glúten", "Não contém glúten". Essas frases são obrigatoriamente presentes e referentes à rotulagem de alimentos brasileiros, segundo a Lei nº 10.674, de 16/05/2003. Quem nunca ouviu falar em dietas que retiram o glúten do cardápio muito provavelmente não deve ter aberto uma revista qualquer relacionada à saúde ou algo a respeito. Entretanto, ao passar por essas linhas legislatórias, normalmente presentes ao final dos ingredientes no rótulo de um alimento qualquer, passamos despercebidos por elas ou muitas vezes se quer entendemos sobre o que ela se trata. Acontece que, diante de tantos fatos verdadeiros e de tantos mitos, fica realmente difícil diferenciar em que podemos ou não acreditar.

Constantemente na mídia e entre a sociedade, ouvimos diversas e controversas discussões com as mais diferentes perspectivas e opiniões sobre o glúten, que por muitos é tido como vilão e, por outros, não representa nada mais do que um nutriente típico de alguns alimentos. De uma forma ou de outra, é impossível falar de protocolos dietéticos sem nos relacionarmos, não só com a saúde, mas com a questão estética também. Vista pela sociedade contemporânea, como fundamental, mesmo que de maneira implícita, ela acaba por ser ponto inicial para a utilização de conceitos que tornam-se um tanto quanto modificados de acordo com o objetivo que se busca.

Mas, afinal, glúten pode ser considerado um vilão, uma simples opção, ou uma salvação? Até que ponto o glúten pode interferir na rotina de uma praticante de musculação? Será que ele é prejudicial ou pode, de alguma forma auxiliar em alguns protocolos dietéticos e, por sua vez, trazer melhores resultados?

O que é glúten?
O glúten é o termo utilizado para designar uma fração (ou uma classe) proteica presente em alimentos como o trigo, a aveia e o centeio. Essas proteínas, normalmente ricas nos aminoácidos Glutamina e Prolina são parcialmente impossíveis de serem totalmente digeridas pelo organismo humano. Isso faz com que uma parte ou alguns vestígios delas iniciem um processo autoimune muito provavelmente na tentativa de eliminar esses resíduos.

Entretanto, vastamente presente na alimentação, principalmente do homem moderno, o qual costuma consumir muitos dos derivados desses alimentos que contém glúten, como o macarrão, os pães, biscoitos, e outros tantos, o glúten tem se mostrado como vilão em muito casos. Casos esses que, por sua vez podem ter origem na genética do indivíduo, logo nos primeiros meses de vida ou passar a ser desenvolvida com o tempo. Por exemplo, há uma relação entre a microbiota intestinal que parece apontar fatores primordiais para o desenvolvimento desta doença (chamada, popularmente, de intolerância ao glúten, mas corretamente de doença celíaca).

Imunopatogênese da doença celíaca: entendendo um pouco mais da doença
Basicamente, a doença está envolvida com a destruição da mucosa do intestino delgado através da produção sinalizada por um linfócito T Helper identificador do glúten para a produção de citotoxinas pró-inflamatórias como a interferon-gama. O autoantígeno da doença celíaca, chamado de TTG desempenha um papel fundamental nesse processo, por sua vez, iniciado pela conversão da Glutamina em ácido glutâmico o que, adiante, também iniciará outros processos intracelulares.

O resultado desses eventos celulares será, por usa vez, uma resposta autoimune, ou seja, das células do corpo destruindo as próprias células do corpo (e gerando a destruição da mucosa do intestino delgado, como citado anteriormente).

Apesar disso, não existem evidências científicas que comprovem que o glúten, de fato pode causar a doença celíaca, (apesar de,  para portadores da mesma), ele representar maiores prejuízos).

O glúten ainda, em alguns casos, é associado com o ganho de gordura, principalmente na região abdominal. Não há nada cientificamente comprovado sobre isso, portanto, não podemos acreditar, em suma. Muito provavelmente, por em alguns casos, causar desconfortos abdominais e, consequentemente, inchaços, ele pode ser "associado" a esse aumento de volume abdominal, algo que, na verdade, é provisório, ou seja, enquanto o glúten e/ou seus resíduos estiverem no trato gastrointestinal.

Alguns sintomas e consequências da doença celíaca:
A doença celíaca pode manter-se calada por um tempo indeterminado em um indivíduo, sendo muitas vezes diagnosticada apenas na vida adulta, o que não é o ideal. Entretanto, a mesma também pode ser desenvolvida durante o decorrer de sua vida.

Entre os sintomas mais comuns da doença celíaca estão a diarreia, a perda de peso, a fadiga, possíveis dores e desconfortos abdominais. Além disso, a doença pode ocasionar a má absorção de micronutrientes e causar ulcerações na parede do intestino delgado.

Quando o glúten pode atrapalhar ou ajudar o praticante de musculação:
Sabe-se que, a grosso modo, sem levar muito em conta a refeição completa em si, o glúten é uma proteína que demora a  ser digerida (ou, parcialmente digerida) pelo corpo (motivo pelos quais muitos possuem desconfortos gastrointestinais frente ao seu consumo). Desta forma, saber como e quando utilizar o glúten e, se isso pode ser algo prejudicial é fundamental para um praticante de musculação.

Primeiro, vamos levar em consideração o fator digestão, o qual talvez nos seja o mais importante: sendo o glúten de lenta saída do aparelho gastrointestinal, NÃO é conveniente que se use em momentos MUITO próximos ao treino (como muitos costumam fazer um shake imediatamente antes do treino com whey, frutas e aveia, por exemplo). Isso prejudicará o fluxo sanguíneo para a musculatura esquelética, tornando assim o rendimento relativamente menor. Como dito, o glúten também pode gerar alguns desconfortos gastrointestinais, o que pode não ser tão conveniente também. Além disso, cuidado: normalmente alimentos ricos em glúten também possuem uma quantidade significativa de fibras alimentares, as quais também não representam bom negócio nos momentos imediatamente ao treinamento.

Assim, ele torna-se conveniente, por exemplo, pela mesma propriedade citada anteriormente, para indivíduos que treinam nos primeiros horários do dia, frente ao consumo na última refeição, por exemplo, pois, ele garantirá uma gradual e mais lenta digestibilidade e não deixará o corpo em estado de jejum quase que completo até o momento do treino. Obviamente, um indivíduo esperto não optará por alimentos ricos em glúten como pão branco ou biscoitos e, tão pouco consumirá esses alimentos em quantidades excessivas, mas, apenas suficientes e, dando preferências para alimentos como a aveia, o macarrão integral ou bagels sugar free 100% integrais.

Como dito, além do fator das fibras alimentares, consideramos como um alimento de lenta saída do trato gastrointestinal. Assim, sabe-se que esse aparelho, caso sofra excessos e sobrecargas pela frequente alimentação, aliado a um longo processo para digestão da mesma, pode ser prejudicado, fazendo, inclusive, com que haja certa perda de apetite e o impossibilite de comer na próxima refeição. Portanto, atenção!

Vale salientar sobre o consumo de suplementos alimentares: alguns suplementos alimentares, podem apresentar glúten, o que pode não ser interessante ao praticante de musculação que possua algum tipo de patogenia relacionada à proteína. Alguns desses suplementos são: barras de cereais e de proteínas, mingaus protéicos, sopas e massas protéicas, graviolas protéicas, alguns whey protein (normalmente os saborizados de cookies n'cream), entre outros. Vale lembrar ainda, que algumas Glutaminas de má qualidade também podem apresentar algum traço de glúten.

Não há nada que prove, para indivíduos saudáveis que exclui o glúten da dieta possa ser algo benéfico ou menos prejudicial, tanto em termos relacionados com a saúde, quanto à estética, associando o ganho de gordura, aumento de massa muscular ou quaisquer outros fatores. Entretanto, uma atenção específica deve ser dada aos celíacos, pois, apesar do glúten, de fato não desenvolver essa doença, ele pode vir a agravá-la ainda mais, sendo necessário, portanto, um acompanhamento nutricional específico para esses indivíduos.

Portanto, uma das poucas preocupações que um praticante de musculação, que busca saúde e/ou estética deve ter é quanto ao consumo de glúten. Utilizando uma diversidade de alimentos dentro de uma vasta e completa dieta a qual seja devidamente equilibrada às suas necessidades individuais e sempre utilizando o bom senso, certamente não teremos por onde errar.

Lembre-se que quaisquer atitudes extremáticas, podem apresentar efeitos totalmente contrários aos que desejamos, portanto, seja sempre um ponto de equilíbrio com seu corpo.

FONTE: www.dicasdemusculacao.org

                                                                               


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